terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nougat Azul


Agora que já não está entre nós e em que é completamente irreversível este facto, assaltam-me ideias do que podia ter feito melhor. È sempre assim quando se vê alguém partir. E neste caso a apagar-se como uma luz que se vai tornando ténue até que se dilui na escuridão.

Foi assim que vi partir a minha sogra. Uma alma tão boa, que a existir céu, está numa nuvem branca,  rodeada de hortênsias com um gato ao colo, (como na foto em que tinha 17 anos a vida pela frente).

Tantas dores de alma naqueles lindos olhos azuis, tantas loucuras. Foi-se embora sem que pudesse partilhar com ela o melhor de mim. Tenho a nítida sensação que muitas vezes mostrei o meu pior. Não sei se conseguiu ver, no meio do turbilhão que foi a nossa vida nos seus últimos anos, que não sou má pessoa.

 Quando comprava nougats e os roía ao pé dela bem podia tê-los moído numa tigela para que pudesse saboreá-los. É destas pequenas coisas que me lembro por vezes, e é destas memorias que se constrói a palavra IRREVERSIVEL. E é deste IRREVERSIVEL que se fazem os dias piores, para ir aos poucos acordando deste sono profundo em que vivemos nas nossas vidinhas, até ao despertar para as pequenas coisas que podem marcar a nossa vida para melhor.

Dizia sempre o quanto adorava nougats quando era nova e que agora já não os podia comer  por causa dos dentes. Eu continuo a comê-los e lembrar-me sempre como podia ter feio as coisas de outra forma...

Convenço-me que tê-la conhecido contribui para que hoje fosse uma melhor pessoa. Para que pinte a minha vida um pouco mais de Azul todos os dias...

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